Por que Jojo Todynho incomoda tanta gente? Que tiro foi esse?

Jojo Todynho

Dona do funk “Que Tiro Foi Esse?”, que tem tudo para se tornar o hit deste Carnaval, a carioca Jojo Maronttinni, a Jojo Todynho, é vítima de muitas críticas desde que se tornou este sucesso retumbante.

Mas, por que Jojo Todynho incomoda tanta gente?

Negra, favelada, filha de empregada doméstica e que com apenas dez anos viu pela janela de casa seu pai ser assassinado, Jordana Gleise de Jesus Menezes representa um Brasil que não costuma ter muitas chances de sair na mídia, a não ser nos noticiários policialescos.

Muitos brasileiros, sobretudo alguns que se apresentam como intelectuais de plantão, não estão acostumados a ver uma mulher com o perfil de Jojo como uma estrela. E, repletos de uma gama enorme de preconceitos somados, torcem o nariz por vê-la neste posto.

Outra funkeira de origem simples, surgida na internacionalmente conhecida comunidade de Cidade de Deus, no Rio, também foi vítima da mesma tentativa de desqualificação de sua música: Tati Quebra-Barraco enfrentou o mesmo tipo de crítica que Jojo Todynho vem enfrentando. E, assim como sua colega de profissão, tem origem em favela e também viu a violência bater à sua porta, ao ter recentemente um filho assassinado.

Tentam até culpar Jojo Todynho pelos tiros que rasgam o céu carioca em momentos de tensão entre o tráfico e a polícia. Como se sua música fosse responsável pela violência urbana.

O Brasil deveria é agradecer Jojo por ela ter conseguido ressignificar artisticamente o tiro que conhece tão bem, transformando-o na alegre canção “Que tiro foi esse?”, fazendo da dor da violência uma metáfora de seu próprio empoderamento.

Por que ninguém culpa os políticos que afundaram o Rio junto de uma perversa elite pela violência que assola e maltrata todos os cariocas, sobretudo aqueles que vivem em comunidades?

É mais fácil botar a culpa em Jojo Todynho, a menina que foi vendedora de picolés no trem antes de poder viver de sua música?

Jojo, assim como muitos cariocas, conseguiu superar os traumas cotidianos e rir de sua própria desgraça, transformando tudo em música. E a música de Jojo une a “Cidade Partida”, como definiu Zuenir Ventura, que o Rio se tornou. Ela toca na mansão e no barraco.

Jojo Todynho é uma garota favelada de 20 anos de Bangu, negra, de menos de um metro e meio de altura, pesando cem quilos e com sutiã 58. Mas que, por isso mesmo, tem muito orgulho de si mesma. É mulher forte que soube reinventar o destino que a sociedade brasileira costuma impor a pessoas como ela em uma carreira artística que hoje vive seus dias de glória.

Vida longa a Jojo Todynho. Afinal, como ela mesma diz: “que tiro foi esse, v…?”.

UOL