Levantando os braços e gritando palavras de ordem, deputados disseram que enquanto democracia estiver em jogo, Congresso também estará sendo desrespeitado

Brasília – Com os braços levantados e gritos de “Fora Temer” vários deputados da oposição se retiraram do plenário da Câmara em protesto contra o decreto presidencial que determinou a atuação das Forças Armadas em Brasília até o final do mês, por meio do instrumento de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A iniciativa também foi seguida por parlamentares de outras siglas que integram a base do governo, como foi o caso do PMB, capitaneado pelo deputado Wellington Prado (PMN-MG).

O deputado Bebeto (PSB-BA) pediu que o decreto seja revisto e disse que os deputados não devem reconhecer quem o encaminhou, numa referência ao presidente Michel Temer. O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) acrescentou que o correto seria que enquanto Brasília estivesse sobre as regras de GLO, o Congresso não funcionasse.

“Nosso gesto é pela restauração da democracia no país e diante de um gesto antidemocrático como este, deveríamos parar todos os trabalhos. Vossa Excelência não precisa disso, sujar sua biografia fazendo com que prossigam os trabalhos desta casa”, acrescentou o deputado Bebeto, numa referência ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele lembrou que, ao contrário da Câmara, o Supremo Tribunal Federal (STF), cancelou a sessão de julgamentos que estava em curso, assim que soube da assinatura do decreto.

O líder da oposição na Casa, José Guimarães (PT-CE), afirmou que a decisão dos deputados que abandonaram o plenário é feita “dentro do mais legítimo e democrático direito da oposição”. Segundo o líder do PT na Casa, deputado Carlos Zarattini (SP) está sendo inaugurada uma nova fase na história do Brasil. “Para reprimir uma manifestação popular com mais de 100 mil pessoas, se coloca o Exército na rua, num retrocesso com o qual nós não podemos compactuar”, explicou Zarattini.

A base aliada do governo insiste em dar continuidade à sessão, que continua. O líder do PMDB, Baleia Rossi (SP) argumentou que a medida foi adotada em função de atos de vandalismo observados, sem lembrar no seu discurso que a manifestação vinha acontecendo de forma pacífica até a interferência dos policiais.

O deputado Alceu Moreira (PMDB-RS) disse que se considera “muito mais anormal depredar bem público, arrebanhar bandidos a semana inteira e trazer de ônibus pessoas para destruir Brasília do que colocar o Exército para preservar a ordem do povo brasileiro”, numa provocação aos oposicionistas. “Espero que vocês se lembrem que a última vez em que um presidente resolveu não acatar os pedidos da maioria dos parlamentares e se fazer de surdo, este presidente acabou sendo preso”, rebateu Molon, referindo-se ao deputado afastado Eduardo Cunha.

Confusão Maia-Jungmann

Depois de ter recebido uma saraivada de críticas e ter sido apontado como principal culpado pela decretação da situação de LGO, o deputado Rodrigo Maia primeiro confessou que pediu ajuda ao Palácio do Planalto para evitar a entrada de manifestantes na Casa. Depois, reiterou que a ajuda solicitada era por meio da Força Nacional de Segurança e não pela medida de Garantia da Lei e da Ordem.

Maia, visivelmente nervoso, divulgou o texto do documento no qual fez o pedido. Acontece que o documento fala em proteção do prédio do Congresso Nacional, bem como prédios anexos e adjacências, o que dá um caráter mais abrangente à proteção por ele solicitada. Para muitos, prédios anexos e adjacências incluem toda a Esplanada dos Ministérios.

Mesmo assim, o presidente da Câmara, depois de sofrer um bombardeio de discursos contra sua postura e críticas, passou as últimas horas dizendo que precisa “esclarecer os fatos” e fazendo pedidos ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, para que se manifeste confirmando suas palavras. “Se a iniciativa foi tomada por decisão do governo ou a seu pedido, o senhor tinha a obrigação de cancelar esta sessão. Até mesmo em respeito `a biografia do seu pai, que foi exilado durante o período da ditadura”, disse o líder da oposição José Guimarães.

Apesar disso, Maia insiste em votar todas as matérias da pauta, enquanto houver quórum suficiente.

Fonte: Rede Brasil Atual

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