Diretores-executivos do comitê organizador ganharam R$ 33,2 milhões entre 2011 e 2016

Os Jogos Olímpicos do Rio deram prejuízo e, contrariando o discurso que mantiveram por anos, os executivos do evento alegam que sempre precisaram de ajuda pública e que o rombo gerado é culpa da prefeitura e do governo federal. Dados das demonstrações contábeis do Comitê Rio-2016 e auditoria independente revelam que, ao fim de 2016, a entidade registrava déficit de R$ 132 milhões.

O informe foi aprovado pela direção da entidade em fevereiro deste ano e indicam que, até o dia 31 de dezembro de 2016, “existia um passivo a descoberto de R$ 132 milhões”. Em março, parte do valor já havia sido pago, restando uma dívida de R$ 80 milhões. Os responsáveis não deixam dúvidas de que “esperam que seja aportado pelo governo do estado e município do Rio de Janeiro”. Os dados, segundo a auditoria, “indicam a existência de incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa quanto a capacidade da entidade em liquidar seus passivos”.

Mas o documento também contraria o discurso que por anos foi adotado pelos organizadores dos Jogos, insistindo que não deveria haver dinheiro público no evento e que apenas obras externas ficariam com a prefeitura, estado ou governo federal do Brasil.

No informe, porém, os dados revelam que “subsídios” dos três níveis de governo eram “essenciais para o equilíbrio orçamentário da entidade (Comitê Rio-2016) e principalmente para garantir a inexistência de déficit, haja visto que desde a candidatura do Rio já se estimava que as receitas próprias do Rio-2016 não seriam suficientes para suportar todas as despesas necessárias para a organização dos Jogos”.

Para explicar o buraco financeiro, porém, os organizadores culpam os governos. Segundo o informe, em 10 de fevereiro de 2015, foi assinado entre a Rio-2016 e a prefeitura da cidade um acordo que estabelecia a “obrigação de adquirir bens e serviços de infraestrutura necessários para o funcionamento do IBC, em contrapartida a transferência para a prefeitura de parte dos cursos com energia temporário, em igual valor”.

“Contudo, em 2016, a prefeitura do Rio não assumiu a parte do custo de energia temporário, que acabou sendo suportado em parte pela União. Assim, dado que o Comitê Rio-2016 arcou com as despesas de infraestrutura do IBC e parte da energia temporária sem nenhuma contrapartida do município, o orçamento da entidade foi onerado em cerca de R$ 200 milhões”, explicou.

Durante o ano de 2016, o governo federal ainda ficaria com os custos de energia, o governo do estado do Rio com os serviços de água e esgoto e, por sua parte, a prefeitura do Rio arcaria com a limpeza, construções de algumas estruturas temporárias, fornecimento de combustível para geradores, mobiliário e computadores.

RECEITA

Mas nem isso foi suficiente para fechar as contas. “No primeiro semestre do ano passado, diversos fatores externos começaram a impactar diretamente na venda de ingressos, acomodações, hospitalidade, patrocínios entre outras fontes de receitas do comitê”, apontam os documentos. “Os principais fatores que afetaram a receita foram: crise econômica do País, instabilidade política e surto de zika. Ademais, havia uma baixa procura de ingressos paralímpicos e patrocínios”, indicam.

O resultado acabou na decisão dos organizadores de “reduzir as atividades dos Paralímpicos de maneira significativa”. Essa medida foi comunicada aos governos, assim como a previsão de déficit e necessidades de recursos.

Mas, de acordo com o balanço, o presidente Michel Temer se recusou a reduzir a dimensão do evento e, num comunicado interno de 15 de julho de 2016, o governo garantiria R$ 250 milhões para os Jogos. Os recursos seriam divididos entre os diferentes níveis de administração.

Segundo o informe, porém, o problema é que essa promessa não foi cumprida. Dos R$ 150 milhões que viriam da prefeitura, foram enviados apenas R$ 30 milhões. Uma parcela do que viria do governo federal em forma de patrocínio também não foi desembolsado e, no total, os entes públicos teriam uma dívida que chegaria a mais de R$ 170 milhões. “Dado que os compromissos da prefeitura e da União não foram totalmente executados, no ano de 2016, a entidade apresentou déficit acumulado de R$ 132 milhões que, segundo o Rio-2016, deverá ser resolvido assim que a prefeitura e o governo federal honrem com os compromissos assumidos”, alerta o balanço, que ainda lembra que esses compromissos do estado brasileiro também foram assumidos com o COI.

SALÁRIOS

Se o evento terminou no vermelho, os dados revelam que os oito diretores-executivos do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos tiveram sucessivos aumentos de pagamentos que totalizam R$ 33,2 milhões entre 2011 e 2016. Os valores incluem salários e gastos extras. O grupo inclui oito executivos que, no fundo, foram os responsáveis por organizar o evento milionário. Apesar da “transparência”, os valores não incluem pagamentos eventuais ao presidente da Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman. Oficialmente, ele diz que não recebe nada pelo cargo que ocupa.

À medida que o evento se aproximava, o valor do pagamento aumentava. Em 2011, foram R$ 2,7 milhões pagos aos oito executivos. No ano seguinte, o valor passou para R$ 3,1 milhões. Em 2013, já era de R$ 5 milhões contra R$ 7,3 milhões em 2014, e R$ 8,3 milhões em 2015. Os valores de 2016 chegaram a R$ 6,4 milhões.

Em gastos de viagens, a Rio-2016 ainda destinou R$ 24 milhões por ano, entre 2014 e 2015. Os dados também fazem parte dos balanços financeiros. Em 2016, esse gasto foi de mais R$ 22 milhões. A Rio-2016 ainda consumiu R$ 7,7 milhões com honorários de advogados e R$ 2,9 milhões com serviços de lavanderia, de acordo com o relatório.

 

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