dinheiro de campanha desviado

Diagnosticado com atrofia muscular espinhal (AME), o pequeno João Miguel morreu nesta quinta-feira (17), menos de duas semanas depois de completar 2 anos. O garoto teve uma campanha de arrecadação para tratar a doença, mas o valor levantado foi roubado pelo próprio pai, que acabou sendo preso em Salvador no mês de julho.

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De acordo com o Estado de Minas, João Miguel passou mal na madrugada na casa da família, em Conselheiro Lafaiete (MG). Ele foi levado pela mãe para ser atendido em Belo Horizonte, no Hospital Infantil João Paulo II, mas não resistiu e morreu.

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A mãe está muito abalada e não consegue explicar direito o que aconteceu. Toda a situação é muito triste, afirma Vanessa Reis.

O corpo será velado e sepultado em Conselheiro Lafaiete, mas ainda não há hora e data definidos.

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Crime

Mateus Henrique Leroy Alves, 37 anos, foi preso em Salvador sob suspeita de desviar o dinheiro arrecadado na campanha. Foi ele mesmo quem iniciou o arrecadamento. O pai conseguiu levantar cerca de R$ 1 milhão que seria usado para comprar medicação para o bebê.

Contudo, embora o filho realmente seja doente, Mateus começou a usar o dinheiro para benefício próprio, sem preocupação com a saúde do filho, segundo denúncia recebida pela polícia mineira.

O caso teve muita repercussão na cidade mineira, com a campanha tendo participação de conselheiros tutelares e até políticos da região. O medicamento que o garoto filho de Mateus precisava, o Spinraza, tem custo aproximado de R$420 mil a dose. O valor arrecadado seria suficiente para uma etapa do tratamento.

Prostíbulo

De acordo com a polícia, Mateus pretendia usar o valor para manter uma vida de luxo e também estava prestes a abrir um prostíbulo na capital baiana. A ideia era montar um esquema de gerenciamento de garotas de programa.

“Ele fala que gastou cerca de R$ 600 mil. Ele efetivamente gastou, sendo que R$ 300 mil foram com farra com mulheres, com bebidas e com drogas. No momento da prisão, inclusive, ele estava com porções de maconha. E [com] o restante do dinheiro, ele alega que estava sendo extorquido”, contou à época o delegado Daniel Gomes.

Ao CORREIO, a assessoria da Polícia Civil de Minas Gerais também explicou que o acusado já tinha investido cerca de R$ 50 mil numa casa de prostituição em Salvador e tinha a intenção de abrir um novo local. Além disso, Mateus levaria, aproximadamente, quatro garotas de programa de Belo Horizonte para trabalhar em Salvador.

A Polícia teve acesso às conversas entre Mateus e uma mulher, cuja identidade não foi divulgada, negociando sobre como seria o funcionamento da casa de prostituição em Salvador.

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Perfil usado para divulgar caso e pedir doações 

O desejo demonstrado por ele é de que essa interlocutora trabalhasse como gerente do local e que Mateus é quem tomaria conta dos programas realizados por cada uma das garotas. Também fica claro que Mateus tinha a intenção de levar, pelo menos, quatro garotas de Belo Horizonte para trabalharem em Salvador, como garotas de programa, explicou o delegado.

Na vida de luxo e ostentação em Salvador, segundo a polícia, o suspeito aparecia em vários vídeos em hotéis de soteropolitanos, ostentando um padrão de vida incompatível com seus ganhos mensais, chegando a dizer em um deles que: “existe vida mais barata, mas eu não vou querer não”. Isso tudo dentro de uma piscina, em um prédio de frente para o mar, em Salvador.

Ainda de acordo com as investigações, o acusado chegou a gastar R$ 7 mil em uma suíte luxuosa de um motel.

Confira parte do diálogo obtido e divulgado pela investigação:

Mulher: “e cê confia, Mateus?”
Mateus: “de olho fechado.”
Mulher: “tá bom, então.”
Mateus: “são meninas que já trabalhou na minha casa lá de [Conselheiro] Lafaiete, de Belo Horizonte.”

Defesa

Ao portal G1, o advogado Túlio César de Melo Silva afirmou  que Mateus foi vítima de extorsão. “A história que ele me contou parece que é a mesma que ele já contou para o delegado, que ele foi, na verdade, extorquido, né? [Isso aconteceu] quando ele foi para Belo Horizonte fazer um curso de segurança. Um curso interessante, porque parece que foi a própria irmã que pagou. Ele foi fazer o curso e conheceu uma pessoa que o levou até uma boca de fumo. Nessa boca, ele comprou droga (…) e pensou em fazer uma sociedade com um traficante. Esse traficante, então, talvez não sei se já sabia ou investigou um pouco sobre o Mateus, descobriu sobre a campanha, dos valores da campanha e, em cima disso, começou a extorquir [dinheiro] do Mateus”.

Crimes investigados

Mateus vai responder por estelionato, tendo ele ludibriado as pessoas a doarem dinheiro para a campanha do filho e usá-lo para outro fim, com pena de um a cinco anos e multa. Também por abandono material, abandono da família e dois filhos menores, sem condições de prover seu devido sustento, com pena de um a quatro anos.

A Polícia Civil mineira investiga também o crime de lavagem de dinheiro. Ele está em apuração em um novo inquérito policial, diante da complexidade exigida para a sua comprovação, que passa pela análise de todas as transações bancárias realizadas nas contas da campanha, destinação do dinheiro, onde o mesmo foi empregado e de que forma o dinheiro estava sendo reinserido no mercado, com o intuito de aparentar ter sido obtido por meios lícitos. A pena para este crime varia de três a dez anos.