Eles me bateram até cansar. Polícia abre inquérito para investigar agressão a travesti em Suzano; vídeo mostra vítima levando pauladas

Agressão ocorreu no dia 23 de fevereiro e a Polícia Militar chegou a ser acionada, mas o caso foi registrado apenas oito dias depois, nesta segunda-feira (2).

A Polícia Civil de Suzano abriu inquérito nesta segunda-feira (2) para investigar as agressões sofridas por uma travesti no último dia 23, no Parque Maria Helena. A vítima foi espancada por dois homens no meio de uma rua, sendo que um dos agressores dava pauladas na travesti de 23 anos.

A Polícia Militar chegou a ser acionada no dia do crime, mas o inquérito foi aberto apenas oito dias depois.

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra o momento da agressão (assista abaixo). Nas imagens é possível ver a vítima sendo puxada pelos cabelos e levando pauladas. Em nota a PM informou que não encontrou nada quando chegou ao local, mas que voltou em seguida, conversou com a vítima e a orientou a registrar um boletim de ocorrência.

A travesti, no entanto, diz que, embora estivesse extremamente machucada, ouviu dos policiais que “não houve ocorrência”. A Polícia Civil informou que o caso foi registrado nesta segunda (2), como lesão corporal de natureza grave e prática de discriminação e que um inquérito foi instaurado para apurar os fatos.

A agressão

A agressão ocorreu na Rua Benedito Faria Marques Filho. Em entrevista ao G1 a vítima contou que estava a caminho de um supermercado, por volta das 15h, quando começou a ouvir comentários preconceituosos dos agressores.

bateram

Ela diz que, a princípio, ignorou e foi às compras. Quando voltou, encontrou os agressores em frente a uma farmácia, na mesma rua, e voltou a ouvir xingamentos. A travesti decidiu enfrentá-los e atacou um deles. Em determinado momento, o outro surgiu com um pedaço de madeira e a agrediu.

“Aquelas provocações que as pessoas gostam de fazer com a gente que é trans. Eu respondi aos xingamentos. A gente discutiu”, comenta. “Discuti, realmente. Quando eu fui para cima do primeiro, de azul, o branco, o outro, já veio com a madeira”.

Ela teve escoriações em todo o corpo, incluindo cortes na perna, na cabeça e no ombro. Em seguida, foi para casa e pediu ajuda às amigas. A travesti relata que chegou a receber uma visita de policiais, que coletaram o depoimento dela, mas que não tomaram nenhuma providência.

“Eles vieram. Estavam em dois. Perguntaram nome, nome de pai, nome de mãe, de onde é, de onde não é, como foi, como não foi. Anotaram em papel e foi dito que não houve ocorrência”, diz.

“É difícil a situação. Eu ia deixar para lá, mas como o caso repercutiu, agora eu vou adiante. Eu sou leiga do assunto. Achei ‘é mais uma travesti agredida, é mais um caso de agressão que não dá em nada porque a polícia faz pouco caso’. É só mais uma que morre. A gente só é vista quando a gente é a marginal na história”, lamenta.

Em nota a Polícia Militar informou que recebeu um chamado para o local, mas que, quando a equipe chegou, não encontrou nada. Ainda segundo a PM, em seguida, uma testemunha ligou novamente e avisou os policiais que tinha socorrido a vítima ao hospital.

A viatura retornou e orientou sobre o registro do boletim de ocorrência na delegacia. Os policiais militares também elaboraram um boletim a respeito dos fatos.

Já a Polícia Civil informou que o caso foi registrado com base em informações da internet no 2º Distrito Policial de Suzano.