Áudio anônimo circulando no WhatsApp chama o religioso de ‘preto burro’, ‘jumento’, e ainda faz ameaças de violência física em Serra Preta

O padre Gilmar de Assis, da paróquia Nossa Senhora de Bom Conselho, em Serra Preta, no Centro Norte do estado, recebeu várias mensagens via Whatsapp, na madrugada de sábado para domingo (4). Não eram pedidos de aconselhamento ou convites para ações comunitárias, mas uma denúncia. Circulavam por grupos de WhatsApp da cidade ofensas racistas direcionadas ao líder religioso.

“Na Paróquia de Serra Preta agora botaram um pade (sic), um ‘negão embaçado’, mas que não é porque é negão não, mas pense num pade (sic) burro, num animá (sic)…”, diz o áudio anônimo, que também acusa o religioso de ter ofendido os moradores da cidade, os chamando de bestas e burros. Padre Gilmar, que está há menos quatro meses na cidade, nega a existência de qualquer conflito com os fiéis.

A gravação ainda faz ameaças de violência física, caso o autor se encontrasse com o religioso na cidade. “Era para pegar ele na saída e dar umas quatro lapadas de facão em cima da cova do sovaco dele, que era para ele virar a frente, que era para eu dar um dois tai (sic) (talhes) em cima da goela dele, que era para ele aprender a respeitar a comunidade de Serra Preta”, diz o áudio anônimo, que chama o padre de “jumento” e “preto burro”.

Dor imensurável
Assustado, o religioso contou que não conseguiu nem ter reação, como denunciar o caso à polícia ou ao Ministério Público pelo crime de racismo. “A única coisa que eu estou conseguindo fazer é rezar, ainda estou absorvendo toda essa situação. Pedindo a Deus discernimento e sabedoria”, disse, acrescentando que está esperando uma orientação divina para decidir o que fazer.

Mesmo com o apoio demonstrado pelos fieis da paróquia, pela Arquidiocese de Feira de Santana e até mesmo por autoridades do município, ele disse que ficou abalado com o episódio. “É uma dor imensurável. A impressão é que a gente perde o chão. É um vazio, os pensamentos saem e ficam somente as lembranças do áudio”, desabafou, falando que a única coisa que lhe dá forças para superar o episódio é a sua fé. “A minha confiança em Deus é que tem me dado muita coragem”, disse.

Segundo o padre, ele já tinha passado por outros episódios de racismo na sua vida, principalmente quando era criança, mas nada que chegasse ao nível de ameaças físicas. Depois que ele ingressou na vida religiosa, há mais de sete anos, já passou por paróquias em Feira de Santana e São Gonçalo dos Campos e nunca tinha sofrido este tipo de rejeição.

Porém, o religioso decidiu que não vai pedir à Arquidiocese para mudar de paróquia. “É um povo muito bom aqui de Serra Preta, que estou aprendendo a amar”, afirmou, acrescentando que tem uma boa relação com a comunidade.

Posicionamento
A Arquidiocese de Feira de Santana, à qual pertence a paróquia de Nossa Senhora do Bom Conselho, emitiu uma Nota de Solidariedade em apoio ao padre Gilmar de Assis. Nela, a Arquidiocese afirma que é “inadmissível qualquer postura discriminatória” e que a instituição repudia “as manifestações de ódio e todas as formas de racismo e discriminação correlatas”.

No texto, a entidade ainda recomenda “nossas preces e orações para que as pessoas que destilam seus ódios e preconceitos façam um caminho de conversão e de respeito ao ser humano”.

Sobre possíveis denúncias sobre o caso às autoridades policiais, o coordenador de pastoral da Arquidiocese, Padre Erimundo Almeida, informou que é preciso esperar a volta do Arcebispo Dom Zanoni Demettino Castro, que está em Roma, para que os fatos sejam averiguados e uma decisão a este respeito seja tomada.

Fonte. Correio 24h

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