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Declarações de Lula sobre regime de governo na Venezuela preocupam uma ala do governo

Em uma avaliação reservada, integrantes do governo ouvidos pelo GLOBO afirmam que, em algum momento, Lula terá de se posicionar de uma forma mais dura contra a Venezuela, assim como vem fazendo com a Nicarágua, do ditador Daniel Ortega. A notícia de que María Corina Machado, principal adversária do chavista Nicolás Maduro, ficou inelegível por 15 anos, alimenta a ideia de que é preciso suspender os afagos a Maduro.

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Segundo um interlocutor, até então, o Palácio do Planalto e o Itamaraty vinham trabalhando com a informação de que havia boas perspectivas em relação à democratização do país. A conclusão levava em conta a ida do assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, a Caracas, em março deste ano. Amorim conversou com oposição e governo e, para uma fonte, talvez seja preciso rever essa avaliação.

Um ponto de preocupação em uma ala do governo são as recentes declarações de Lula sobre a Venezuela. Há cerca de um mês, o presidente disse que as acusações de que o país vive uma ditadura eram uma questão de narrativa. Na quinta-feira, Lula disse que o conceito de democracia era relativo, em resposta a uma pergunta sobre o regime de Maduro.

O ideal seria se Lula tivesse mais cuidado neste momento, mas o presidente gosta de ter independência para dizer o que pensa, disse uma fonte. Um graduado diplomata ressaltou que as falas de Lula são de teor puramente político. Concretamente, a Venezuela continua suspensa do Mercosul, por razões técnicas, e precisa dar segurança aos parceiros de que as eleições de 2024 serão limpas e legítimas.

Além disso, integrantes do governo avaliam que a fala de Lula foi ruim e roubou a atenção para outras coisas que foram ditas durante a entrevista que ele deu, quinta-feira, a uma emissora de rádio — quando “relativizou” a democracia. O entendimento de parte dos auxiliares é que o presidente, por não ter celular e não acompanhar a repercussão das redes sociais, não consegue ter a dimensão do impacto negativo que declarações como essa alcançam.

Lula também não costuma seguir à risca os briefings preparados por assessores para entrevistas, o que inviabiliza qualquer controle sobre suas falas. Aliados também lembram que os escorregões, como o de quinta-feira, dão margem para os adversários explorarem as declarações ao colocar em xeque convicções do presidente, como a defesa da democracia.

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