Rafael Zulu fala sobre viver bissexual em ‘O outro lado do paraíso’: ‘Ele gosta da fruta também’
‘O melhor laboratório que eu fiz foi ele ter me mandado mensagem’, conta o ator, relatando história de um amigo com vida semelhante a de seu personagem na novela.
Para interpretar Cido, o motorista que tem um caso com o psiquiatra Samuel (Eriberto Leão) em “O outro lado do paraíso”, Rafael Zulu emagreceu 8 quilos.
“Eu falei: o Cido tem que ser ‘bofe’. Para o gay olhar e falar: ‘Eu quero esse cara’. Para a mulher olhar e falar: ‘eu quero esse cara’. E acima de tudo, para o Samuel falar: ‘eu quero esse cara’.”
“Tem que estar bonito, bem apresentável”, explica o ator, que focou mais na alimentação do que nos treinos para alcançar seu objetivo.
“Foi ótimo. Porque estou me sentido melhor. Fisicamente é bacana. E é um personagem que realmente tem esse apelo de, de vez em quando, tirar a camisa. E é legal a gente estar seguro com a gente. Só ficamos seguros quando estamos bem”.
Também para a construção do personagem, Zulu absorveu referências que encontrou em filmes e séries. “Minha pesquisa é sempre muito baseada no cinema, em atores que já fizeram coisas parecidas”, afirma.
O ator negou ter entrado em aplicativos de paquera para a pesquisa, mas revela que contou com uma ajuda bem próxima para a construção do personagem.
“Comecei a fazer novela e recebi mensagem de um grande amigo. De repente, ele detalhou a história da vida dele e era a história do Cido. E é doido porque ele nunca falaria para mim se não fosse nessa situação”, recorda.
“Eu não tinha ido tão a fundo nem ouvido de alguém. Foi tão incrível. É impressionante como hoje entro em cena com o texto que ele me escreveu. O melhor laboratório que eu fiz foi ele ter me mandado essa mensagem”.
Parceria com Eriberto Leão
“É um presente estar trabalhando com esse cara. Eu dividia o teatro com ele e a gente sempre tomava um chope na saída, mas nunca tínhamos trabalhado juntos”.
“É um puta ator que respeito e gosto. Temos uma frase que a gente sempre usa um para o outro: ‘ainda bem que é com você’. Ainda bem que é com quem a gente gosta”, elogia Zulu, falando sobre a parceria em cena.
Cido e Samuel vão morar juntos após o plano de Clara (Biana Bin) de tirar o psiquiatra do armário dar certo. “Fomos sinalizados logo no início pelo diretor, Maurinho (Mauro Mendonça Filho), que falou: ‘o Cido brinca. Ele encontra no Samuel o parque de diversões dele’”.
“De repente, ele não tem a oportunidade de comprar um relógio bacana, uma roupa legal. Então ele encontra no Samuel uma oportunidade disso. Só que o cara toma um tiro e Samuel move mundos e fundos para que ele se salve. Então isso é muito legal”, analisa o ator, pontuando o momento em que Cido começa a mudar a forma de enxergar Samuel.
“E se você perguntar se ele não gosta da fruta, ele gosta da fruta também, não é possível. Ninguém vai só brincar no parque de diversões se não gostar. Ele assumidamente é um cara que brinca com essa bissexualidade dele. E é impressionante como tem gente assim”.
Brinca de menino e de menina
Zulu conta que, em nenhum momento, relacionou a história de Cido e Samuel com a do casal Sandrinho e Jefferson, personagens de André Gonçalves e Lui Mendes na novela “A próxima Vítima” (1995).
“Porque não recebi a sinopse como se ele fosse homossexual, muito pelo contrário. Até porque ele não é homossexual. É um cara que brinca de menina e brinca de menino. Então ele tem uma bissexualidade ali. O que é uma coisa completamente diferente”.
“Quando vi que o cara ia se apaixonar por uma mulher, ter uma relação com uma mulher, e num dado momento, ia se envolver com o psiquiatra, eu comecei a ler e pensar: ‘isso é muito bom!’. E muito comum. Muito mais comum do que a gente imagina”.
“Eu, Rafael, não teria cabeça pra isso. Primeiro porque tenho minha orientação, sou um cara que sei exatamente o que quero. E não sei se teria cabeça pra me relacionar com duas pessoas ao mesmo tempo”.
Fonte: G1