PT fica sem discurso contra ACM Neto, após decisão judicial

Decisão judicial deixa PT sem discurso contra ACM Neto

Perto de encerrar o seu mandato, em outubro de 2020, ACM Neto fez um balanço dos seus oito anos como prefeito de Salvador em entrevista à Tribuna. Disse, na época, que sua gestão serviu para “quebrar várias barreiras e vários estigmas” que existiam contra ele e o seu grupo político. “Em 2012, eu tive que enfrentar uma campanha eleitoral marcada por acusações injustas, que nós só pudemos desfazer depois que assumimos a prefeitura. Tenho certeza de que (a quebra desse estigma) será importante para qualquer outra eleição que eu venha disputar daqui para frente”, disse ele.

BOMBA: MP concluiu que assassinato de Celso Daniel não foi “crime comum”

Leia mais: Câmara aprova convocação de Marcos Valério para explicar ligação do PT com PCC

Naquela campanha, o PT sugeriu que ACM Neto, se fosse eleito prefeito, faria uma administração racista. Lembrou que a então sigla de Neto, o Democratas, havia ajuizado no Supremo Tribunal Federal (STF) ação contra as cotas raciais. Na mesma eleição, o Partido dos Trabalhadores também apontou que o hoje pré-candidato a governador do União Brasil acabaria com o Bolsa Família, programa social que havia sido criado pelo governo Lula (PT).

Por último, o PT afirmou que, se eleito, ACM Neto faria uma gestão elitista. Mas o ex-prefeito soube usar os oito anos no poder municipal para desconstruir os discursos dos adversários. Criou uma Secretaria de Reparação e implantou cotas raciais nos concursos da prefeitura de Salvador para pôr fim à acusação de que seria um gestor racista. Também passou os dois mandatos repetindo aos quatro ventos que a sua administração investiu 80% dos recursos nas áreas carentes, para combater o discurso de que faria um governo elitista.

Quando Michel Temer (MDB) assumiu a Presidência, em agosto de 2016, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), ACM Neto quebrou o último discurso do PT contra ele. “O PT vai se calar e nunca mais vai poder usar argumentos de que somos contra políticas sociais, contra cotas, contra Bolsa Família. O Bolsa Família será preservado, todos os programas sociais serão preservados”, disse o então prefeito soteropolitano.

Temer manteve o Bolsa Família, que foi transformado pelo governo Bolsonaro (PL) no “Auxílio Brasil” e passará a pagar R$ 600 aos beneficiados ainda neste ano. Dez anos depois daquela campanha à prefeitura de Salvador, o PT mostra estar sem um discurso consistente contra o seu principal oponente. Há três anos e meio, o partido tenta associar ACM Neto ao presidente Jair Bolsonaro, mas a estratégia, até o momento, não deu certo. Não houve qualquer efeito nas pesquisas de opinião.

Nessa semana, o Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA) decidiu, por unanimidade, proibir o PT de atrelar Neto a Bolsonaro em uma publicação nas redes sociais digitais. Não opinarei neste espaço sobre o mérito, mas o acerto é que, se a decisão for mantida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pode ter uma repercussão devastadora na campanha petista ao governo do estado.

Não é segredo para ninguém que o Partido dos Trabalhadores espera o horário eleitoral iniciar na TV e no rádio para que a tática de associar ACM Neto a Bolsonaro alcance um número maior de eleitores, e o ex-prefeito comece a desidratar nas sondagens de opinião. Mas, se o TSE mantiver a proibição de atrelar o ex-prefeito ao atual presidente e estender para os demais meios de comunicação, o que fará o PT?

É bem verdade que os adversários políticos fizeram uma oposição dura contra o ex-prefeito ACM Neto nos oito anos, mas não conseguiram construir um discurso sólido, até agora, que pareça capaz de derrotá-lo nas eleições deste ano. O resultado é que podem pagar um preço caro nas urnas em outubro deste ano.

Um minuto, por favor…