Por que a greve geral foi um fracasso

Por que a greve geral foi um fracasso?

Paralisação ficou limitada basicamente a servidores públicos, sindicatos e a trabalhadores do setor privado afetados pelos piquetes

De geral, a greve de sexta-feira não teve nada, exceto a propaganda  dos organizadores. O fracasso acaba por favorecer o governo, a quem os sindicalistas e partidos que patrocinaram a paralisação pretendiam enfraquecer. Foi uma greve parcial, limitada basicamente a servidores públicos, que têm estabilidade, e a trabalhadores do setor privado afetados pelos piquetes. Por que a greve geral foi um fracasso

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A greve só poderia ser considerada um sucesso se tivesse adesão maciça e espontânea. Quem não trabalhou porque ficou sem transporte coletivo ou porque os sindicalistas bloquearam as portas, caso de boa parte dos bancários não pode entrar na contabilidade. Adesão compulsória é autoengano e não produz consequências além de desgaste aos olhos da opinião pública.

As manifestações vistosas, como a que ocorreu em Porto Alegre no final da tarde, não apagam o fato de que a greve fracassou. Os transtornos foram mínimos e restritos a setores específicos. Mesmo nos bancos, não chegaram a causar maiores problemas, até porque hoje tudo se resolve nos aplicativos ou caixas eletrônicos. Mas por que a greve fracassou? Não foi só por um motivo. Quem olhar o cenário sem paixão vai encontrar pelo menos sete. A saber:

1. Com quase 14 milhões de desempregados, os trabalhadores do setor privados relutam em fazer greve, sabendo que correm o risco de demissão. Ainda que a Constituição assegure o direito de greve, a demissão sem justa causa não precisa de explicações.

2. Os motivos da paralisação eram difusos. À pauta original do protesto contra a reforma da Previdência somaram-se outras que não unificam os trabalhadores e acabam por deixar a greve sem foco. A rejeição às mudanças na Previdência não é tão expressiva como imaginam os políticos contrários a ela.

3. Protestar contra o governo não é uma ideia com força capaz de parar o país. O presidente Jair Bolsonaro pode não estar nadando de braçada, mas está longe de ser considerado impopular.

4. Os caminhoneiros, categoria que poderia  fazer a diferença, estão fechados com o governo. Ninguém parou e não pararia numa greve convocada pela esquerda.

5. As conversas do então juiz Sergio Moro com o procurador Deltan Dallagnol, que dominaram a semana, empolgaram os opositores do governo, causaram desgaste no meio jurídicos e em setores da sociedade que discordam da ideia de que “os fins justificam os meios”, mas não afetaram a credibilidade do ministro da Justiça aos olhos do eleitorado de Bolsonaro. Ao contrário, boa parte desses eleitores acha mesmo que na guerra contra a corrupção não há limite.

6. O transporte coletivo não parou, seja porque as empresas tomaram precauções junto às autoridades para dissolver os piquetes, seja porque os sindicatos de rodoviários estão descapitalizados para pagar eventuais multas.

7. A esquerda está desacreditada fora do seu nicho. Errou na dose, na data e no cálculo. O governo agradece.

Aliás

O que fizeram funcionários da Trensurb, colocando fogo nos trilhos e ameaçando a segurança dos usuários e o patrimônio público, é sabotagem. Os autores não entenderam que a maioria da população repudia atos violentos.