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R$ 2,5 milhões por mês. Era essa a quantidade de dinheiro que a quadrilha chefiada por Roberto dos Santos, 36 anos, movimentava através do tráfico de drogas no Bairro da Paz, em Salvador. Mulher do traficante gastou 35 mil em compras.

No início da manhã desta quarta-feira (5), Beto, como o bandido era conhecido, foi morto em uma operação conjunta das polícias Civil e Militar num condomínio de luxo em Vilas do Atlântico, área nobre de Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador.

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O resultado da operação Guerra e Paz, que terminou com 14 suspeitos presos – incluindo a viúva de Beto, Jucileide Pereira Vieira, 29, que chegou a fazer R$ 35 mil em compras num shopping – e outros quatro mortos, foi apresentado horas depois da ação policial, na sede da Coordenação de Operações Especiais (COE) da Polícia Civil.

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Jucileide Pereira Vieira, conhecida como Neide, viúva do traficante Beto (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

Deflagrada após mais de um ano e meio de investigações, a operação contou com 400 policiais e conseguiu desarticular o bando que atuava no Bairro da Paz há mais de 5 anos.

Segundo o diretor do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), Marcelo Sansão, Beto e outros três gerentes do chefão foram mortos em confronto com os policiais.

Na operação, a polícia contou com o auxílio de cães farejadores para apreender 50 kg de droga, maconha e crack, que seriam comercializadas, além de R$ 17 mil em espécie.

Beto foi morto no condomínio de luxo Intervillas. Alvo principal da ação, ele estava acompanhado, além da esposa, de três filhos, todas menores de 12 anos, quando a Polícia chegou até a residência.

No momento em que as equipes da COE chegaram, Beto correu para um dos cômodos e reagiu atirando, conforme a polícia.

Ele ainda foi socorrido e encaminhado para o Hospital Geral Menandro de Faria, mas não resistiu. As crianças foram encaminhadas para a tutela da avó, que mora no Bairro da Paz.

Traficante e ‘juiz’

Além de comandar o tráfico, Beto era responsável por controlar a vida dos moradores do Bairro da Paz, chegando a decidir quem era certo ou errado em brigas de casal e até condenando à morte os moradores que incomodavam a quadrilha pelos motivos mais variados possíveis: desde desentendimento com algum membro da facção até por conta de denúncias feitas à polícia.

“Para além do tráfico e lavagem de dinheiro, havia uma repressão muito violenta dentro da comunidade. O controle era total, desde brigas de casal até roubos e denúncias, tudo passava por Betão. Era como se ele fosse um juiz. Tudo passava pela mão dele”, explica o diretor do Draco, Marcelo Sansão.

Ainda na mansão de Beto, foi apreendida uma pistola 9 mm fabricada na Rússia, carregador, munições, um veículo modelo Spin, além de RG, CNH e título de eleitor, todos falsos, em nome de Marcos Silva Machado.

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Documentos falsos usados pelo traficante Roberto dos Santos, o Beto, e droga apreendida (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

Já no Bairro da Paz, onde a operação de drogas funcionava, foram presos Jucilene Pereira Vieira, 33, a Fia, Jaqueline Pereira Vieira, 20, ambas irmãs de Neide; Hermínio Oliveira Moreira, 43, Cristiano Cândido dos Santos, 40, Bárbara Santana Barreto, 30, Elias Cunha Braz, 33, Luan Almeida dos Santos, 18, Silvano Sena dos Santos, 25, Cristiano Timóteo do Nascimento, 32, Cleiton Couto Pinto, 22, Rodrigo Pereira Neri, 26, Eliseu Silva do Nascimento, 21, e Joilma dos Santos Reis, 26, todos por determinação judicial.

Nos cumprimentos de mandados de prisão de Darlan Oliveira da Silva, 25, Leandro de Jesus Ramos, 28, e Rodrigo Conceição dos Santos, 29, houve confronto. Assim como Beto, os três comparsas foram socorridos para o Menandro de Faria, mas nenhum resistiu aos ferimentos.

A quadrilha

Movimentando cerca de R$ 2,5 milhões por mês, o bando atuava exclusivamente em Salvador e comandava o tráfico no Bairro da Paz.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA), Neide era uma das responsáveis pelo núcleo econômico da quadrilha. Ou seja, era ela uma das principais organizadoras do setor de lavagem de dinheiro que vinha do tráfico.

Para isso, a quadrilha abriu diversas empresas de fachada, como salões e lojas de artigos de beleza, lojas de brinquedos infantis, comércio de bijouteria e locação de imóveis.

Neide vivia de forma luxuosa e já chegou a gastar R$ 35 mil em um único mês apenas com idas ao shopping center. Além disso, a esposa do traficante morto também realizou diversos procedimentos estéticos e sempre fazendo pagamento em espécie. Toda essa movimentação de dinheiro está no radar da Polícia Civil desde que abriram as investigações, em abril de 2017.

“Foram quase 500 dias de investigação e a Polícia Civil precisa ser parabenizada pelo excelente levantamento dos alvos. Essa é a resposta do estado. Não permitiremos que criminosos mandem em bairros”, afirmou o comandante do Policiamento Especializado (CPE), coronel Humberto Sturaro.

Pela Polícia Civil, além do Draco e da COE, os departamentos de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), de Polícia do Interior (Depin), de Inteligência Policial (DIP), de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), de Polícia Metropolitana (Depom) e da Coordenação de Polícia Interestadual (Polinter) participaram da ação.

Já a Polícia Militar atuou nos cumprimentos com policiais do Comando de Policiamento Especializado, através do Setor de Inteligência, Batalhão de Choque (BpChq), Grupamento Aéreo (Graer), Esquadrão Águia, além da Rondesp Atlântico e da 15ª Companhia Independente (Itapuã).

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O delegado Marcelo Sansão e o coronel Humberto Sturaro durante apresentação de resultado da operação (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

A ação também contou com informações da Superintendência de Inteligência da SSP-BA, através do Disque Denúncia, Laboratório Contra a Lavagem de Dinheiro, coordenações de Inteligência e de  Operações e com o trabalho do Departamento de Polícia Técnica.

Ajuda animal

Não seria possível encontrar as drogas sem uma ajuda especializada. Os cerca de 50 kg de drogas estavam enterrados sob o solo de um estabelecimento no Bairro da Paz. Quem indicou a direção até os entorpecentes foi a cadela Funk, uma farejadora da raça Cocker Spaniel.

Após Funk descobrir o local onde o material ilícito estava enterrado, os policiais ordenaram que um dos presos cavasse o buraco para retirada de todo o material. Segundo o coronel Sturaro, a quadrilha era extremamente organizada e possuía processos de logística muito bem divididos e assimilados entre os bandidos.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier.