Mulher de Moro ainda não acordou para a realidade: ela e o marido já eram. Por Joaquim de Carvalho

Moro

A mulher do juiz Sergio Moro, Rosângela Moro, decidiu ensinar os brasileiros a votar.  “Vote consciente! Vote no coletivo! Não aceite promessa nem Favor (sic)! Somos gigantes! Teu candidato é réu? Fujaaaaa! Confie nas instituições, as instituições trabalham para um Brasil melhor!”, escreveu ela na página do Facebook que criou para idolatrar o marido.

Há tempos, Rosângela anunciou que tiraria a página da rede social, mas parece que tem dificuldade para sair de cena e, neste post, ela avisa, mais uma vez, que está indo embora. “Já estou com saudade! Nosso último Dia (sic)!”, disse. Não sei se, desta vez, cumprirá a promessa, mas parece que o público da página já não se importa tanto.

O número de pessoas que fizeram comentários negativos no post supostamente derradeiro é grande. No primeiro comentário, um homem diz algo que não dá para saber se a favor ou contra o magistrado. “Que a verdadeira Democracia sobreviva em 2018, livre dos falsos valores e da hipocrisia”, anotou Edu Rodrigues.

Logo abaixo Eduardo Zanete diz as duas palavras que têm corroído a credibilidade de Moro: “Tacla Durán”. Aí começou a avalanche de críticas ao juiz e também à mulher dele: “Falsos e hipócritas”, “Malditos”. Em seguida, três pessoas se posicionaram a favor do juiz, mas logo outros condenaram.

“Esta salvando o Brasil dos brasileiros e dando de presente ao tio SAM”, escreveu uma mulher. “Já ouviu falar na delação de Tacla Durán?”, perguntou outro. E seguiram as críticas. São centenas de comentários. Mas basta ler as primeiras dezenas para ver que a maioria dos comentários é negativa para o casal.

A reação confirma o que a pesquisa da Ipsos, realizada entre 1o. e 12 de dezembro, constatou: a maioria dos brasileiros considera a atuação do juiz negativa para o País — 53%. Só 40% ainda acham que Sergio Moro está fazendo um bom trabalho.

No início do ano, entre 1o. e 12 de fevereiro, mesma Ipsos constatou, com uma amostragem semelhante, que Moro tinha 65% de aprovação e Lula, 31%. Em 11 meses, a aprovação a Lula subiu — 45% — e a de Moro caiu — 40%.

Medir a popularidade de um magistrado é, por si só, uma excrescência.

“O mais importante para o magistrado é a credibilidade e não a popularidade, que é passageira. Os juízes não devem se orientar pelas manchetes fáceis na primeira página dos jornais, mas pela edificação do Estado de Direito, no qual todos os cidadãos sejam tratados com igualdade na construção de nosso projeto de uma nação justa, solidária e fraterna”, disse o advogado Marcus Vinicius Furtado Coêlho, em 2014, quando era presidente do Conselho Federal da OAB e surgiram nas ruas e nas redes sociais as primeiras manifestações de apoio ao juiz, logo transformado em herói.

Foi Moro quem, deliberadamente, provocou essa situação. Ele se colocou na condição de combatente. Em 2004, ele escreveu um artigo para uma publicação jurídica em que fazia considerações sobre a Operação Mãos Limpas, na Itália, e relacionava algumas condições para que uma investigação desse tipo tivesse êxito.

“Os responsáveis pela Operação Mani Pulite ainda fizeram largo uso da imprensa. Com efeito: para o desgosto dos líderes do PSI (Partido Socialista Italiano), que, por certo, nunca pararam de manipular a imprensa, a investigação da ‘mani pulite’ vazava como uma peneira”, escreveu Moro. “O constante fluxo de revelações manteve o interesse do público elevado e os líderes partidários na defensiva”, acrescentou, em outro trecho.

Existem diferenças significativas entre o Direito italiano e o brasileiro — lá, o promotor não precisa de autorização do juiz para quebrar sigilo bancário ou fiscal e nem se senta mais ao lado do juiz nas audiências, o que mostra independência entre dois dos três pilares da Justiça — o outro pilar é o advogado.

Mas Moro adaptou a legislação brasileira a seu propósito de fazer, a partir de Curitiba, uma versão da Operação Mãos Limpas. O resultado é o que se viu — prisões preventivas prolongadas, conduções coercitivas, condenações sem prova e o uso do processo penal com finalidade política.

Moro sempre agiu como promotor ou procurador, não como juiz.

As operações de maior repercussão aconteceram nos momentos que antecederam eleições, protestos de massa ou as sessões decisivas do parlamento no processo de afastamento de Dilma Rousseff. O relógio da Lava Jato conduzida por Moro sempre esteve sincronizado com o de grupos com interesse político.

Quem vai para a arena política — e o post de Rosângela é mais um passo nessa direção — está sujeito a ser rejeitado pelo público. Moro e a mulher escolheram esse caminho. Só chegaram aonde chegaram por conta do apoio da mídia — e esse apoio esconde interesses não totalmente revelados.

Não fosse assim, Moro teria desaparecido de cena muito tempo antes.

Esse dia está chegando, da maneira que poderá ser melancólica para eles. O desgaste da Lava Jato é consequência da percepção popular de que o Brasil piorou depois que juiz trocou a toga pela capa de super-homem, mas, diferentemente do história em quadrinhos, ajudou o inimigo na luta contra o povo.

Aquela foto simbólica de Moro e Aécio conversando ao pé do ouvido, sorridentes, começa a ser vista como uma imagem equivalente de Clark Kent confabulando com Lex Luthor.

Quem resistiria?

A mulher de Moro ainda se acha em condições de ensinar o povo a votar porque acredita que seu público nunca descobrirá a verdade — por exemplo, o vínculo que ela e o marido têm com políticos como o empresário Joel Malucelli, suplente do senador Álvaro Dias, ou com o tucano Flávio Arns.

Rosângela deveria prestar atenção no que disse Abrahan Lincoln, herói no país que o marido tanto admira:

“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.”

Fonte: diariodocentrodomundo