Médico fala sobre  a ABSOLVIÇÃO de Katia Vargas e gera polemica na internet

Me mantive calado até então. Mas diante do que foi postado pelo ex-advogado de acusação do caso Kátia Vargas, é impossível permanecer assim.

Sou Médico Orto-Traumatologista, filiado à Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego). Tenho 27 anos de formado, e há mais de 20, estudo, analiso, faço perícias de tráfego vou falar sobre essa polemica. Graças à minha atuação, conseguimos condenar, em 2001 o responsável por um acidente terrível que ocorreu na Av. Paralela, quando um rapaz bêbado, dirigindo em altíssima velocidade, abalroou por detrás e arremessou um Fiesta contra a base da passarela em frente ao Extra, matando instantaneamente três jovens. Um laudo pericial oficial feito de forma amadora foi objeto de fácil contestação.

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Dr. Iran Furtado, da mesma forma que o Sr., eu não recebi um centavo de real nem fui solicitado por ninguém da família de Kátia para, de forma pessoal e espontânea buscar elidir o que houve. O fiz por entender que havia algo de muito errado, muito estranho naquela acusação.

A peça toda da acusação é uma grande piada. Uma aberração jurídica, daquelas que serão analisadas no futuro como “o que não se deve nem se pode fazer no Direito”. A começar pela inicial, que dizia que Kátia “perseguiu e jogou a moto contra o poste, imprensando os jovens e matando-os”. Como seria possível um carro de 2 toneladas imprensar uma moto contra um poste, e não haver marcas do carro na moto, nem marcas da moto no carro, nem marcas do poste no carro, nem marcas do carro nas vítimas? A inicial naufraga ela mesma na inconsistência das fotos do evento.


Como não aferir tom de racismo explícito numa prisão em flagrante, efetuada por uma delegada afrodescendente contra uma “médica loura, rica e bonita”, prisão esta sem qualquer embasamento jurídico, sem qualquer prova substancial, apenas por suposição? Réu primário, emprego e residência fixa deixaram de ser condições para não se lavrar uma prisão preventiva?

E o que dizer do laudo “pelo avesso”? Um laudo ao contrário, feito da frente para trás, onde se saiu da situação de condenação prévia e se buscou “casar” de forma desmesurada as deformações do carro de Kátia com a moto dos meninos? “Vamos ver o que a gente consegue produzir”, deve ter sido a conversa entre os inquisidores. Não conseguiram. Aliás, conseguiram produzir situações tão fantasiosas que até meu filho de seis anos consegue enxergar os absurdos. A menor que fizeram: uma foto estática, usando a motocicleta deformada, com um modelo humano “de características físicas parecidas com o piloto da motocicleta”, para tentar relacionar marcas no veículo de Kátia com a motocicleta – com um pequeno detalhe: retiraram da moto o porta-objetos e a passageira!

E no mesmo átimo de segundo, uma outra foto que mostra o mesmo modelo sentado – quando na foto anterior o modelo estava de pé! Ou seja, em nenhum lugar conhecido do Universo aquela foto demonstra algo factível, possível de ter ocorrido (a foto está anexada ao post). Isso sem falar que o próprio laudo oficial confirma a mentira, posto que uma marca vermelha existente previamente no carro de Kátia estava sendo relacionada ao capacete do piloto foi tacitamente reconhecida como não congruente.

Mais adiante, fizeram a reconstituição do evento, porém das 5 testemunhas utilizadas apenas uma é de fato pertinente. As demais mentem.
Porque digo isso?

Porque os filmes que registraram o evento são absolutamente claros quanto ao que houve! E aqui pairou a minha maior certeza: porque a acusação não se utilizou dos vídeos? Resposta única e óbvia. Os vídeos são a maior defesa de Kátia.
Passei os últimos quatro anos analisando os vídeos. Utilizando recursos universalmente utilizados em perícia de trânsito, e com as ferramentas que disponho, consegui estabelecer claramente o que houve: um acidente de trânsito.

Nunca houve perseguição: o vídeo mostra que carro e moto estão em velocidade semelhante.
Nunca houve por parte de Kátia o movimento deliberado em jogar o veículo em cima da moto: Kátia tentou uma ultrapassagem e fez um movimento de retorno para evitar colidir com uma moto que vinha em sentido contrário. O vídeo mostra isso.
Nunca houve toque do carro na moto – ironia, pois se houvesse, a moto cairia de lado e os meninos estariam vivos. O vídeo mostra claramente a motocicleta empreendendo movimento de fuga ao se assustar com o retorno do carro de Kátia. O vídeo é tão claro que se percebe até o momento em que a motocicleta inclina de lado tentando evitar o choque com o meio-fio.

Dinâmica do evento: Kátia tenta ultrapassar a moto dos meninos sem perceber que uma motocicleta vem em sentido contrário. Para não colidir, ela bruscamente faz movimento para retornar para a pista. O piloto da moto se assusta e acelera para a direita, mas o espaço é curto. Ele bate com o pneu dianteiro direito no meio-fio, que funciona como um fulcro, uma catapulta, e os meninos são arremessados contra o poste. Kátia perde o controle do carro, que deriva em zig-zag até parar de vez após colidir contra a grade do hotel. As fotos dos veículos sinistrados mostram isso. O laudo cadavérico mostra isso. Os vídeos mostram isso.

Acredito, Dr. Iran, que o senhor de fato não seja palpiteiro. Mas não houve crime, houve um acidente de trânsito. Ponto. Todo acidente de trânsito com vítima fatal é, até que se apure, homicídio culposo – sem intenção de matar. E Kátia não teve o benefício da apuração. Ela foi condenada e presa sem o menor cabimento. Ela está sendo julgada não por justiça, mas por vingança.

O Sr. Mesmo fala “já é hora de parar o ciclo da polemica em que somente “preto” comete crime e responde por ele”. Concordo. Mas não é condenando uma inocente que isso se resolve. Não é condenando uma médica loura que isso se resolve. A Justiça é cega, e como todo bom advogado sabe, Justiça é a busca pela verdade. E existem duas verdades neste caso: a primeira: Kátia é inocente. E a segunda: nada vai trazer de volta a vida dos meninos. Nem mesmo uma condenação injusta.

polemica

Me compadeço da família dos meninos. Perda irreparável. Mas não é estragando a vida de outra pessoa, de outra família, que haverá paz nos corações.