Gugu de bonzinho só tinha a cara

A mãe dos três filhos de Augusto Liberato – aquela que o socorreu quando ele sofreu o acidente – ficou (do jeito que gente rica fica) com uma mão na frente outra atrás, depois da morte do apresentador.

De acordo com a imprensa do país todinho, Rose di Matteo está fora do testamento e, agora, luta na justiça para viver do usufruto dos bens do casal. Sim, li tudo e vou acompanhar porque esse é um provável bom exemplo da tradicional escrotidão masculina e eu quero ver como a justiça vai se comportar.

Entenda a situação: no processo em curso, terá que ser decidido, entre advogados e juízes, se Gugu e Rose tinham, de fato, uma relação marital. Se sim, ela reverte o testamento. Se não, fica tudo como está. Isso não lhes parece absolutamente nonsense?

Um momento esquisitíssimo provocado pelo finado que, pelo jeito, de bonzinho, só tinha a cara. Péssimo marido ou amigo da onça. De uma das duas, ele não escapa. 

Supondo que vivessem maritalmente (no caso, em união estável), só um homem perverso e sádico tiraria da própria viúva direitos básicos.

Um prazer mórbido de fazer com que Rose morra com ele, simbolicamente, na hierarquia da estrutura familiar. Ela só ocuparia aquele lugar, enquanto ele vivesse. Ela só existia com e por ele. É isso que está dito num testamento que apaga a esposa desconsiderando completamente os anos de construção com uma mulher de quem, inclusive, nunca se separou.

Mas eles não eram casados”. Oxe, me poupe. A ausência do casamento legal não deveria significar nada, diante de uma convivência longeva. Ainda que ela tivesse assinado papéis abrindo mão dos bens do casal, isso poderia ser revisto, com um/a bom/a advogado/a. Não sou da área, mas sei que a pessoa abrir mão de direitos é fato reversível nos tribunais.

E se ficar provado que eram apenas amigos? A coisa também é grave. Supondo que Rose foi uma companheira que serviu pra dissipar os frequentes questionamentos sobre a sexualidade do apresentador – porque para ele era importante performar o “homem hetero tradicional” – tinha era que ser herdeira majoritária com carta de agradecimento por estar nesse arranjo mantendo as aparências, até o trágico final. Imagine o quanto devem ter se desentendido em quase vinte anos de relação (fui conferir) e ela discreta, convincente, em silêncio sepulcral. 

(Em qualquer possibilidade, mãe dos três filhos. Isso, principalmente para um homem que sempre se colocou como defensor da “família tradicional brasileira”, devia importar.)

Temos mais do mesmo, nesta ceia de Natal: a indigesta e comum falta de caráter dos homens ao tratar de dinheiro com as mulheres com quem se relacionaram X nosso romantismo exagerado. Se não por este, por qual motivo uma mulher esclarecida não teria exigido assinar documentos que lhe garantissem o que lhe caberia, no caso da morte do cara? Amor? Profunda amizade? Bobagem. Tudo isso é bom de viver, claro, mas sempre, com um olho aberto e outro fechado. Sejamos madames ou proletárias, precisamos entender que a corda continua arrebentando, em 100% das vezes, do lado que, lamentavelmente, segue sendo o mais fraco.

(“Ainnnn mas ela é rica, vai viver muito bem de qualquer jeito”. Não importa, criatura. Com um mínimo de honestidade, qualquer uma/a pode perceber que, se a dupla era milionária, ela tem o direito de permanecer no mesmo padrão.)

Gugu