Filha baiana de Jimmy Cliff é a grande sensação do filme Pantera Negra

O nome até engana, mas Nabiyah Bashir é baiana da gema. Filha do cantor de reggae jamaicano Jimmy Cliff com a psicóloga brasileira Sonia Gomes, Nabiyah já nasceu com arte no sangue, como não podia deixar de ser.

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O domínio do palco, porém, era de uma veterana, com maturidade rara às cantoras da sua idade. Pudera. Aos oito anos, Nabiyah (lê-se nábia) começou com aulas de canto – emendando com dança e teatro – e quando mais nova viajou os palcos do mundo como dançariana nas turnês do pai.

Agora Nabiyah Bashir estreia como atriz no filme Pantera Negra. A superprodução é pioneira ao partir da perspectiva exclusiva de personagens negros, vivendo nos guetos urbanos americanos e no fictício reino de Wakanda, localizado no nordeste da África.

Filha baiana de Jimmy Cliff

Os olhos arregalados de Coogler têm razão de ser. A herança das décadas de segregação étnica nos EUA ainda se fazem presentes em um país, como o Brasil, marcado pela escravidão. Em um momento político especialmente delicado para os negros americanos, com o fim da Era Obama e a percepção de um retrocesso conservador na nova administração republicana, “Pantera Negra” se tornou um catalisador na indústria cultural local da reação ao avanço de grupos radicais de direita.

A dimensão social do filme foi dada antes mesmo da estreia nos cinemas americanos. Depois de bater recordes nas pré-vendas e com expectativa de ultrapassar, nos EUA, a marca de US$ 150 milhões nas bilheterias, “Pantera Negra” sofreu com trolls interessados em combater o que acreditam ser o proselitismo da Disney e da Marvel, interessadas em investir em protagonistas de minorias étnicas e femininas. A ideia era rechear o site Rottentomatoes de resenhas negativas para baixar a aprovação do filme. O agregador de críticas se tornou uma espécie de julgador-mor no cinema americano. Redes sociais fecharam o acesso a grupos que tentavam criar eventos de boicote, e o filme chegou a 100% de aprovação.

MOVIMENTOS INSPIRADOS NA CAPOEIRA

Empolgada, a vencedora do Oscar Octavia Spencer, indicada este ano por “A forma da água”, anunciou que compraria uma sessão inteira de um cinema no estado do Mississippi, no sul dos EUA, para “ter certeza de que crianças de cor possam se ver na tela como super-heróis”.

Repleto de cenas de ação — incluindo as de luta, com movimentos inspirados na capoeira, base usada por Boseman para demonstrar, em suas palavras, “a ginga do rei T’challa” —, o filme gira em torno de um conflito na sucessão real em Wakanda, um reino que já é, em si, uma subversão política: por conta da exploração de uma matéria-prima rara, o Vibranium, usado no escudo do Capitão América e no traje do Pantera Negra, a nação foi capaz de evitar o colonialismo europeu e se tornou uma das mais desenvolvidas tecnologicamente do planeta. E com protagonismo de mulheres, destaques do conselho que governa o país. É também uma mulher, a irmã do rei, Shuri (Letitia Wright), o gênio da ciência, sem o qual Pantera Negra não poderia enfrentar bandidos de igual para igual.

Nabiyah ainda escreve algumas poesias, que não raramente acabam se transformando em música. Porém, em seu show de estreia, a jovem cantora decidiu cantar apenas músicas que fizeram sucesso em outras vozes, deixando no armário as composições próprias. “Quero me sentir segura no palco primeiro. Sempre tive um pouco de vergonha de mostrar o que escrevo, mas esse é um desafio para o futuro”, conta Nabiyah.

A música que dá nome ao espetáculo, Rebel in me, é a única do pai no repertório. “A palavra rebelde hoje em dia carrega um significado de agressividade, um tanto quanto pejorativo. Mas minha escolha não remete a isso, mas ao amadurecimento, à quebra de amarras”, explica Nabiyah.

Gravada por Jimmy Cliff pela primeira vez em 1998, Rebel in me traz pouco do ritmo pelo qual o jamaicano ficou conhecido. Mas Nabiyah compensa e não deixa o reggae de fora do espetáculo. Revelando sua versatilidade, o repertório faz um passeio por diversos gêneros musicais, passando por MPB, soul e blues. “Acho legal essa ideia de uma menina de 17 anos cantando coisas antigas. Não queria pegar músicas que todos podem ouvir no rádio hoje.”

Filha baiana de Jimmy Cliff

Seu inglês sem nenhum sotaque é fruto da educação bilíngue que recebeu no colégio Panamericano, onde hoje cursa o último ano do ensino médio, e das experiências em cursos nos Estados Unidos e Inglaterra.