Salvador

Exposição alerta para consequência da falta de cuidados com a natureza em Salvador

Alguns cartões postais de Salvador podem ficar submersos em até 78 anos. É o que mostra a exposição Salvador 2100, lançada no último domingo (5), no Dia Mundial do Meio Ambiente, e construída a partir do cenário previsto pela agência Climate Central. A exibição acontece no piso L2 do Salvador Norte Shopping e tem entrada gratuita. Ela  é organizada pela Comissão Especial de Emergência Climática e Inovação da Câmara de Vereadores de Salvador junto às redes internacionais C40, Fundação Konrad Adenauer, GIZ, ICLEI e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

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No local, um corredor leva os visitantes a uma viagem por fotos de 15 locais de Salvador com projeções de como esses espaços ficarão com o aumento do nível do mar até o ano de 2100. Entre os locais retratados estão pontos turísticos famosos como o Porto da Barra, Mercado Modelo, Ilha dos Frades e até trecho do Sistema Ferroviário do Subúrbio de Salvador, desativado para a construção do VLT do Subúrbio.

“Impressionante. É uma discussão que está um pouco fora do meu ciclo e ver assim, tão real na nossa frente, é impactante. É um pouco desesperador também. Eu acho que vale colocar em cada esquina, porque a gente esquece desses assuntos no dia a dia”, comenta Juarez Mata, de 52 anos, ao passar pela exposição.

O Climate Central fez as projeções considerando uma elevação do nível do mar de 55 centímetros em 2100. Os cenários podem se tornar reais caso  a temperatura média do planeta aumente em 1,5ºC, de acordo com Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC).

Foi pensando em fazer com que as imagens impactassem o suficiente para não serem esquecidas que a arquiteta e curadora da exposição, Manuela Accioly, selecionou cada peça. “Quis trazer diversas regiões da cidade e pontos turísticos que todos conhecem, para que as pessoas pudessem confrontar o antes e o depois com clareza. Para que quando passem por esses pontos novamente, lembrem-se de que eles poderão sumir em algumas décadas”, explica.

Para Isaque Dias, 31, será difícil esquecer o que viu. “Eu moro na região do subúrbio. Hoje a gente já sofre com o alagamento, não sei nem o que poderia acontecer se o mar avançasse também. Vai ser difícil não pensar nisso agora, mesmo que eu não chegue a estar aqui para ver”, lamenta Isaque.

Engenheiro ambiental e presidente da comissão que organiza a exposição, o vereador André Fraga (PV) também destacou a importância desse debate. “A capital baiana tem cerca de 50 quilômetros de orla que já estão sentindo os efeitos das mudanças climáticas com ressacas cada vez mais fortes e redução da faixa de areia. A tendência pro futuro é piorar. Precisamos nos preparar para este cenário”, argumenta.

A comissão da Câmara é formada ainda por Ireuda Silva (Republicanos), Sidininho (Podemos), Ricardo Almeida (PSC), Daniel Alves (PSDB), Roberta Caires (PP), Marta Rodrigues (PT), Suíca (PT) e Geraldo Júnior (MDB). “Trata-se de um grupo de trabalho formado para contribuir com a cidade no enfrentamento dos desafios causados pelas mudanças climáticas. A exposição é fruto concreto desse trabalho”, diz André.

Para a diretora ProAdapta/ GIZ, Ana-Carolina Câmara, a exposição cumpre um papel positivo de conscientizar a população: “As ameaças decorrentes da mudança do clima são particularmente pronunciadas nas cidades. No caso específico de Salvador, onde, em função da topografia irregular e das características da expansão urbana, aproximadamente metade da população vive em áreas vulneráveis. Neste contexto, a exposição Salvador 2100 consolida-se como uma iniciativa arrojada para voltar a atenção dos riscos associados à mudança do clima não apenas à infraestrutura e à população soteropolitana, mas também, aos patrimônios histórico, cultural e natural”.

“A crise climática já está aqui. As chuvas na Bahia, Rio, Minas, Pernambuco com a trágica perda de vidas, as secas que afetam a produção de comida e os preços da eletricidade, as ondas de calor que assola nossas cidades a cada verão, são todos sinais claros da velocidade com que o clima está mudando pela ação do ser humano. As imagens dessa exposição mostram como não há outra opção a não ser tomar ações urgentes e efetivas já para reduzir emissões e preparar nossas cidades para minimizar os impactos climáticos”, comenta Ilan Cuperstein, vice-diretor regional da C40 para América Latina.

“Os impactos da mudança do clima já podem ser sentidos, e a exposição Salvador 2100 materializa brilhantemente um senso de urgência que todos nós precisamos ter. No Brasil e no mundo, temos a missão de promover o desenvolvimento sustentável, que através do apoio a esta exposição acreditamos estar um passo mais perto dos nossos objetivos”, afirma Anja Czymmeck, diretora da Fundação Konrad Adenauer no Brasil.

“A exposição Salvador 2100 ajuda a materializar a percepção do dano, e do impacto potencial da omissão ante a crise climática. As cidades brasileiras, apesar de todo o esforço das prefeituras, já vem sofrendo danos estruturais e convivendo com perdas de vidas, essas irreparáveis. A mudança só virá se houver uma consciência coletiva em relação à sua necessidade. E a arte é o instrumento mais poderoso para mudar hábitos e sensibilizar a todos para a importância da agenda climática”, completa Rodrigo Perpétuo, Diretor executivo para a América do Sul do ICLEI.

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